Cinco princípios para liderar com propósito

O modelo tradicional do líder-herói que salva o dia, sabe tudo, e é a pessoa mais inteligente na sala não é mais apropriado nos dias atuais. Quando criança, pensei que os líderes de sucesso deveriam descobrir todas as respostas por conta própria. Ser inteligente (e garantir que todos soubessem disso) parecia ser seu atributo mais marcante. As melhores escolas deveriam levar aos melhores empregos, que produziriam os melhores líderes. Poder, fama, glória e dinheiro eram a medida do sucesso profissional. No início da minha carreira, líderes empresariais proeminentes como Jack Welch, da GE, eram reverenciados por seu intelecto, senso estratégico e estilo agressivo. 

 

Hoje, no entanto, vivemos em um mundo em rápida mudança, complexo e imprevisível, o que exige um tipo diferente de liderança. Ninguém pode afirmar ter todas as respostas para resolver as crises complexas que enfrentamos, e as organizações mais adaptáveis ​​são aquelas em que as decisões são descentralizadas. Agora, o propósito de uma organização deve ser muito maior do que apenas a ideia de ganhar dinheiro. Com isso, o modelo de líder-herói, exigente e otimizador de lucros, perdeu muito do seu apelo. Além disso, um número crescente de funcionários vem valorizando a autenticidade e a conexão com o líder, já que a natureza do trabalho mudou do tipo mais mecânico e repetitivo para aqueles que exigem engenhosidade e criatividade. 

 

Embora cada organização precise definir seu próprio ponto de vista de liderança, apresento a seguir cinco atributos que caracterizam os líderes responsáveis por algumas das organizações de maior desempenho hoje. 

 

  1. Seja claro sobre o seu propósito

Ou seja, seja claro sobre o seu propósito, o propósito das pessoas ao seu redor e como isso se conecta ao propósito da sua organização.

O grande número de funcionários que abandonaram os seus empregos ou pensaram nisso seriamente entre 2021 e o começo de 2022 lançou uma luz renovada sobre a percepção pré-Covid de que o propósito, tanto individual como coletivo, está no cerne dos negócios. Para que o propósito seja bem-sucedido, os próprios líderes devem primeiro ter clareza sobre o que os motiva e o que motiva as pessoas ao seu redor. 

 

Corie Barry, CEO da Best Buy, certa vez compartilhou que seu propósito pessoal é deixar algo um pouco melhor do que quando o encontrou, o que ela conecta à missão da empresa de enriquecer vidas por meio da tecnologia. Todos os dias, ela mantém sua conexão com esse propósito, perguntando-se como as coisas na Best Buy ficaram melhores naquele dia porque ela estava lá.

 

Igualmente crucial para os líderes é compreender o que motiva as pessoas ao seu redor. Recentemente, um CEO de quem sou mentor sentiu que os membros de sua equipe trabalhavam principalmente para desenvolver suas próprias áreas funcionais, e não a organização como um todo. Juntos, percebemos que, embora ele tivesse clareza sobre seu próprio propósito e o de sua organização, ele não sabia muito sobre o que motivava as pessoas ao seu redor. Sem esse conhecimento, ele não foi capaz de ajudar a conectar seus propósitos com os da organização e fornecer uma influência comum e abrangente para todos os membros da equipe.

 

  1. Seja claro sobre o seu papel

O papel fundamental de um líder é criar energia e momentum, especialmente quando as circunstâncias são adversas, ajudando os outros a ver possibilidades e potencial, criando energia, inspiração e esperança. Eu teria descartado essa ideia há 30 anos, mas ela é essencial para o papel de um líder com propósito. Como se acredita que Dolly Parton tenha dito: “Se suas ações inspiram outros a sonhar mais, aprender mais, fazer mais e se tornarem mais, você é um líder”.

 

A mensagem do ex-CEO do Marriott, Arne Sorenson, aos funcionários, durante a pandemia de Covid-19, ilustra isso. Primeiro, ele ofereceu apoio àqueles diretamente afetados pelo vírus. Então, explicou que a pandemia estava prejudicando gravemente os negócios e o que o Marriott estava fazendo para mitigar a crise. Por último, concentrou-se nos sinais de recuperação na China antes de concluir com uma nota esperançosa, projetando o dia em que as pessoas começariam a viajar novamente. Sua mensagem foi honesta, sincera e comovente, ao mesmo tempo edificante e inspiradora. A conclusão é que você não pode escolher as circunstâncias, mas pode controlar sua mentalidade. Seu mindset determina se você gera esperança, inspiração e energia ao seu redor, ou desmotiva todos. Então, escolha bem. De forma geral, o seu papel como líder é criar o ambiente certo para que outros possam florescer em apoio ao propósito da organização.

 

  1. Seja claro sobre quem você serve (não é você mesmo)

É fundamental deixar claro a quem você serve em sua posição, tanto em momentos bons quanto em momentos desafiadores. Como líder, você deve servir as pessoas que estão na linha de frente, impulsionando os negócios. Você serve seus colegas, seu conselho de administração e as pessoas ao seu redor, primeiro entendendo o que elas precisam para dar o melhor de si, para que você possa fazer o melhor para apoiá-las.

 

Na verdade, veja todos como clientes. A maneira como você trata os funcionários de uma companhia aérea, por exemplo, influenciará muito o serviço que você receberá. Esta é uma lição que um alto executivo de uma das empresas onde trabalhei aprendeu da maneira mais difícil. Certa vez, ao demorar para ser atendido depois que seu voo foi cancelado, se dirigiu ao balcão da companhia aérea e perguntou “Você sabe quem eu sou?” Um dos funcionários da companhia se dirigiu a outros viajantes na fila e disse “Senhoras e senhores, preciso da vossa ajuda. Temos um caso de identidade esquecida. Este homem aqui não sabe quem ele é!”

 

É preciso vigilância e uma boa dose de autoconsciência para evitar cair na armadilha do poder, da fama, da glória e do dinheiro. Antes de falar ou agir, seja claro sobre sua motivação e a quem você está tentando servir. Não há espaço em uma organização para pessoas cujo objetivo principal é promover os seus próprios interesses. Como disse Jim Citrin, CEO da Spencer Stuart: “Os melhores líderes não chegam ao topo subindo nas costas dos outros, eles são levados ao topo”. E servir aos outros é como isso acontece. 

 

 

  1. Seja movido por valores

Diga a verdade e faça o que é certo. No geral, todos concordamos sobre o que é certo: honestidade, respeito, responsabilidade, justiça e compaixão. No papel, toda organização possui grandes valores, mas eles não servem de nada se permanecerem no papel. Ser movido por valores é fazer o certo, e não apenas saber ou dizer o que é certo. O papel do líder é viver de acordo com esses valores, promovê-los explicitamente e garantir que façam parte da estrutura da organização. 

 

A Johnson & Johnson é famosa por acreditar que sua primeira responsabilidade é para com os pacientes, médicos, enfermeiros, mães, pais e todos os outros que utilizam seus produtos e serviços. A decisão em 1982 de parar a produção de Tylenol e recolher todas as garrafas que já tinham sido distribuídas no país, ilustra como os líderes da empresa viviam de acordo com esse credo. A decisão foi tomada após várias pessoas na área de Chicago morrerem ao ingerir comprimidos contaminados. O recall custou caro no curto prazo, mas é sempre lembrado como um modelo de boa liderança e gestão de crises.

 

Fazer o que é certo nem sempre é simples, especialmente durante crises. Harry Kraemer, professor de liderança na Kellogg, ressalta que um dos principais princípios que os líderes devem adotar é acreditar firmemente que farão a coisa certa e farão o melhor que puderem. Se você se cercar de pessoas em quem confia e cujos valores estão alinhados com os seus e os da organização, você não precisa descobrir sozinho o que é certo nessas situações. Vocês determinarão a coisa certa juntos e então agirão da melhor maneira possível.

 

Ser movido por valores também significa saber sair quando você não está alinhado com seu ambiente, seja ele seus colegas, seu chefe, seu conselho ou os valores e propósito de sua organização. Tenha sabedoria para saber a diferença entre o que você pode e o que não pode mudar.

 

  1. Seja autêntico

Seja você mesmo, seu verdadeiro eu, a melhor versão de si mesmo. Seja vulnerável e autêntico, partilhe suas emoções e lutas quando for apropriado e útil para os outros. Os funcionários esperam que os líderes também sejam humanos. Isso começa quando nos tornamos vulneráveis, inclusive reconhecendo o que não sabemos.

 

A forma como lideramos tem implicações profundas nas pessoas que nos rodeiam. Por isso, é importante refletir sobre as seguintes questões: Você já decidiu que tipo de líder deseja ser? Como descreveria seu propósito? Como descreveria sua função? O que você está fazendo para criar um ambiente no qual outras pessoas possam prosperar e florescer? A quem você está servindo? Quais valores te definem? Você está fazendo o melhor para ser autêntico, acessível e vulnerável? 

 

Assim, comece por você mesmo. Seja o líder que você deveria ser. Seja a mudança que você quer ver.

 

 

Referências:

 

Harvard Business Review: https://encr.pw/PWRka